terça-feira, 18 de janeiro de 2011

A Questão do Contexto Histórico


Paulo, apóstolo de Cristo Jesus pela vontade de Deus, segundo a promessa da vida que está em Cristo Jesus, a Timóteo, meu amado filho: Graça, misericórdia e paz da parte de Deus Pai e de Cristo Jesus, nosso Senhor. (2 Timóteo 1.1-2)

Temos aqui uma carta de Paulo ao seu colaborador júnior, Timóteo. Uma carta representa apenas um lado de uma conversação. Supostamente, o desafio ao ler uma carta está no fato de não conhecermos a natureza precisa das questões e situações que fizeram o missivista escrever sua carta, e é assumido que precisamos de certo entendimento desse outro lado da conversação para ter contexto suficiente a fim de interpretar a carta. Visto que os documentos bíblicos são literatura antiga, a distância entre o contexto original e os leitores modernos é alegadamente mais ampliada.

Estudiosos constantemente assumem essa dificuldade e tentam lidar com ela à medida que examinam o texto. Contudo, o problema é exagerado, mas visto que ele é teimosamente assumido, não é incomum ver um comentarista chegar a uma falsa interpretação que ignora ou contradiga o que está claramente no texto devido à sua obsessão em descobrir ou especular sobre o contexto histórico. Mesmo que alguém chegue ao significado correto, não é incomum encontrar um comentarista basear a sua interpretação em algo que pertence ao contexto histórico, quando as palavras do texto oferecem o mesmo significado, tornando supérflua a sua árdua investigação. O contexto histórico, quer ou não determinado corretamente, com frequência não afeta o significado de forma alguma.

A dificuldade é uma mera possibilidade em cada caso. Se há uma dificuldade real ou não, isso depende do que o escritor inclui em sua carta. Se Paulo escreve, “Tito, o que eu lhe disse para fazer, faça-o depressa”, então não teremos nenhuma ideia do que Paulo quer que Tito faça, embora ainda saibamos que Paulo deseja que ele faça algo. Por outro lado, se Paulo escreve, “Tito, constitua presbíteros em cada cidade, como eu o instruí”, e então inclui uma lista detalhada de qualificações, como o faz em sua carta a Tito, então devido à plenitude de informação inclusa desse lado da conversação, não existe nenhuma necessidade de especularmos sobre o outro lado.

Estudiosos podem considerar isso uma simplificação ingênua, mas não é. Antes, o problema é que eles exageraram tanto o problema da falta do contexto histórico, e subestimaram tanto a semelhança do pensamento e cultura humana através dos séculos, que eles complicaram a própria clareza, e recusam permitir que a linguagem direta seja o que é. O erro deles está em exagerar e superestimar a obra de detetive no processo de interpretação. A Bíblia é uma revelação confiável, atual e independente da parte de Deus. Mas ao assumir constantemente que a informação externa é necessária para fornecer o contexto apropriado para a interpretação, eles subestimaram a suficiência e perspicuidade da Escritura.

Outro problema relacionado à obsessão em descobrir o contexto histórico, ou talvez até mesmo um procedente dessa obsessão, é a tendência de pensar que tudo o que Paulo diz, ele o faz para abordar uma questão correspondente entre seus leitores. Ou, tudo o que ele afirma, ele o faz porque pelo menos alguns entre os seus leitores creem no oposto, e tudo o que ele diz que eles devem fazer, ele o faz porque eles não estão fazendo ou estão fazendo o oposto. Parece que Paulo nunca mencionaria algo, a menos que haja um problema relacionado a isso, ou pelo menos seus leitores estejam crendo ou praticando o oposto do que é defendido pelo apóstolo.

Essa suposição ridícula é extremamente comum em comentários bíblicos. Mas é inválida e enganosa, e deve ser descartada. Sem dúvida, ela é sempre aplicada inconsistentemente, ou teríamos que pensar que Paulo escreve somente a ateístas anti-cristãos, visto que ele menciona com muita frequência Deus e Cristo em suas cartas.

por Vincent Cheung

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