segunda-feira, 18 de abril de 2011

Sola Scriptura: nosso único fundamento


Muitos críticos da Reforma tentaram retratar este item [Sola Scriptura] como o convite ao individualismo, uma vez que as pessoas descobrem por si mesmas, na Bíblia, aquilo em que irá ou não acreditar. "A Igreja não tem importância. Fora os credos e a função de ensino da Igreja! Nós temos a Bíblia e isso é o suficiente”. Mas esta não foi a doutrina dos reformadores no Sola Scriptura - Somente a Escritura. Com relação à abordagens individualista para com a Bíblia, Lutero disse "que isso significaria que cada homem iria para o inferno por conta própria."

De um lado, os Reformadores enfrentaram a Igreja Romana, que considerava a autoridade dos seus ensinamentos como definitiva e absoluta. Os Católicos Romanos diziam que a tradição pode ser uma forma de revelação infalível, mesmo na igreja contemporânea; é preciso uma Bíblia infalível e um intérprete infalível daquele livro sagrado. Do outro lado estavam os anabatistas radicais que não apenas acreditavam que não precisavam da função do ensino da Igreja, mas pareciam realmente não necessitar da Bíblia também, uma vez que o Espírito Santo falava com eles – ou, pelo menos, com seus líderes - diretamente. Em vez de um Papa, o Anabatismo produziu vários mensageiros "infalíveis", que ouviam a voz de Deus. Contra ambas as posições, a Reforma insistiu que a Bíblia era a única autoridade final na determinação da doutrina e da vida. Na sua interpretação, toda a igreja deve ser incluída, inclusive os leigos, e devem ser orientada pelos mestres na igreja. Esses mestres, embora não infalíveis, devem possuir considerável autoridade interpretativa. Os credos eram obrigatórios e as comunidades Protestantes recém-reformadas, rapidamente elaboraram confissões de fé que receberam a concordância ou aprovação de toda a Igreja, não apenas dos mestres.

Hoje, somos confrontados com desafios semelhantes mesmo dentro do evangelicalismo. Por um lado, há a tendência de se dizer, como Lutero caracterizou o problema, "Eu vou à igreja, ouço o que o meu padre diz, e nele eu acredito”. Calvino queixou-se ao Cardeal Sadoleto de que os sermões anteriores à Reforma eram, em parte, uma atividade trivial, e em parte uma narração de histórias. Hoje, este mesmo processo de "emburrecimento" significa que somos, nas palavras de George Gallup, "uma nação de analfabetos bíblicos". Talvez tenhamos uma visão elevada da inspiração bíblica: 80% dos adultos americanos acreditam que a Bíblia é a Palavra de Deus literal ou inspirada. Mas 30% dos adolescentes que freqüentam regularmente a igreja, não sabem nem mesmo por que a Páscoa é celebrada. "O declínio da leitura da Bíblia", diz Gallup, "é em parte devido à convicção generalizada de que a Bíblia é inacessível, bem como a uma menor ênfase na formação religiosa nas igrejas". Assim como a infalibilidade de Roma repousava sobre a crença de que a Bíblia em si mesma era difícil, obscura e confusa, da mesma forma, pessoas hoje querem a “sangria” dos profissionais: o que isso significa para mim e como isso me ajudará e como me fará mais feliz? Mas aqueles que lêem a Bíblia mais do que apenas para meditações devocionais, sabem quão clara ela é - pelo menos sobre os principais pontos que aborda - e como ela acaba por tornar a religião menos confusa e obscura. Mais uma vez, hoje, a Bíblia - especialmente em igrejas protestantes - é um livro misterioso que só pode ser compreendida por um pequeno grupo de estudiosos bíblicos que “estão por dentro do assunto".

Mas também temos o outro lado. Há uma tendência popular em muitas igrejas "evangélicas" de enfatizar a comunicação direta com o Espírito Santo, à parte da Bíblia. Nesses círculos, a tradição e o ministério de ensino da Igreja através dos séculos não só são tratados como falíveis (como os reformadores acreditavam), mas como objeto de escárnio. Os sentimentos de Thomas Müntzer, que se queixou de que Lutero era "um dos nossos escribas que quer enviar o Espírito Santo para a faculdade", encontrariam um espaço nobre nas transmissões das principais rádios e televisões evangélicas desta nação. Calvino disse, a respeito dessas pessoas, "Quando os fanáticos se vangloriam extravagantemente do Espírito, a tendência é sempre a de enterrar a Palavra de Deus para que eles possam dar espaço para as suas próprias mentiras."

O Cristianismo não é uma espiritualidade, mas uma religião. Wade Clark Roof e outros sociólogos têm chamado a atenção para o fato de que os evangélicos de hoje são indistinguíveis das tendências gerais da cultura, especialmente quanto à preferência por pensar em seu relacionamento com Deus mais em termos de uma experiência do que em termos de uma relação que é mediada por palavras. Nossa sociedade é baseada no visual ou na imagem, bem parecida com a da Idade Média, e o Cristianismo, contudo, só pode florescer através de palavras, idéias, crenças, proclamação e argumentos. Não pode haver qualquer comunicação com Deus à parte da Palavra viva e escrita. Tudo na fé cristã depende da Palavra falada e escrita, entregue por Deus a nós através dos profetas e apóstolos.

Além disso, sola Scriptura significa que a Palavra de Deus é suficiente. Embora Roma acreditasse que a Palavra era infalível, a teologia oficial foi moldada muito mais pelas idéias de Platão e Aristóteles, do que pelas Escrituras. Hoje, de modo similar, a psicologia ameaça reformular o entendimento do “eu”, como até mesmo nos púlpitos evangélicos o pecado se torna "vício"; a queda, como um evento, é substituída por um status de "vítima"; a salvação é cada vez mais comunicada como saúde mental, paz de espírito e auto-estima, e a minha felicidade pessoal e auto-realização são o centro do palco, em lugar da santidade e a misericórdia de Deus, sua justiça e amor, sua glória e compaixão. Será que a Bíblia define o problema humano e sua solução? Ou quando realmente queremos fatos, nos voltamos para outro lugar, para uma moderna autoridade secular que vá realmente influenciar o meu sermão? A Bíblia, é claro, será citada para reforçar o argumento. Ideologia política, Sociologia, Marketing e outras "autoridades" seculares não devem jamais ter prioridade na respostas de questões abordadas pela Bíblia. Isto é, em parte, o que significa esta afirmação [Sola Scriptura], e hoje os evangélicos parecem tão confusos quanto a este ponto quanto a igreja medieval.

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