Por: Heitor Alves
Se existe uma coisa que traz grande perigo para a igreja de Cristo, neste início do século XXI, é a pregação de um suposto pacifismo. Esse pacifismo tem abalado grandemente os alicerces da fé cristã histórica. É uma das armas do inimigo no combate ao povo de Deus. O pacifismo que se prega por aí constitui uma antítese à polêmica ou ao espírito combativo.
Muitos crentes se recusam a participar de debates e discussões teológicos, alegando que são pacíficos e que isso só causa divisões entre o povo de Deus. Será mesmo que se afastam dos debates por não “mancharem a unidade evangélica”? Será que a recusa em participar de tais encontros, reflete uma consciente deficiência dos próprios argumentos? Uma atitude assim só pode refletir uma coisa: os argumentos doutrinários de tais evangélicos não subsistem diante da verdade bíblica! Simplesmente não sabem defender a fé que professam!
Vivemos em meio a um clima de ecumenismo. E tudo o que deve ser feito para não comprometer a tal “unidade religiosa”, precisa ser feito a todo custo, devendo ser evitado até as polêmicas, porque são prejudiciais. Discussões e debates teológicos são desencorajados entre os pacifistas. Tais discussões trazem divisões entre o povo de Deus, criam-se rixas e, além disso, afirmam eles, a discussão desvia a igreja do seu papel fundamental no mundo: a evangelização.
Podemos até concordar com eles, em parte. De fato, devemos evitar debates inúteis, baixas e indelicadas. Debates de cunho pessoal devem ser evitados, pois o que a Bíblia encoraja são os debates no campo das idéias, mesmo que se citem os nomes de seus idealizadores. Não devemos evitar as discussões, se elas envolvem a teologia e a ética. Neste caso, os debates devem produzir efeitos construtivos e salutares, porque se realiza no terreno ideológico, sendo assinalada pela abstração, sem descer às questões de ordem pessoal.
Infelizmente, há pessoas que ultrapassam os limites da educação. Não são merecedores de respostas, pois pecam no excesso de linguagem imprópria à pessoa de boa educação. Podemos ser firmes com quem discorda de nós e militar incansavelmente contra no erro sem ferir com a cordialidade.
Mas essas exceções não devem impedir que os debates aconteçam. Vemos nesse tal pacifismo religioso, avesso aos debates e discussões teológicas, uma tendência perigosa e antibíblica de acomodação ao erro. Pratica-se um pacifismo com o sacrifício da doutrina e isso não condiz com a verdade do ensino bíblico. O evangelho é revolucionário, ele cria divisões (Lc 12.51-53). O evangelho também coloca em atrito o novo homem contra o velho.
Porém, este mesmo evangelho que traz divisões, estabelece uma paz àqueles que o recebem, mesmo com os turbilhões que sobrevêm a esta vida. É uma conseqüência natural da pregação do evangelho. Ela só existe para aqueles que aceitam a Cristo como Salvador pessoal. Textos como os de Lucas 2.14 e Isaías 9.6 se referem à paz trazida pela mensagem do evangelho e que são recebidas e aceitas pelo pecador arrependido. Precisamos entender que numa mesma mensagem do evangelho, ela pode trazer paz àqueles que o recebem e pode trazer divisões àqueles que permanecem com os corações endurecidos e impenitentes. Esta divisão é inevitável, uma vez que os que têm a mente carnal aborrecem os que têm a mente espiritual. Foi o próprio Cristo que afirmou que o mundo odeia os que seguem o evangelho (Jo 15.18,19; 17.14; 1Jo 3.13).
Há uma luta entre os servos de Cristo e seus inimigos. É impossível haver compatibilidade entre os verdadeiros crentes e incrédulos, entre reformados e (neo)pentecostais, entre protestantes e católicos romanos, entre fiéis e infiéis. Logo, é impossível a coexistência pacífica entre correntes doutrinárias adversas. É impossível este ecumenismo. Não nos iludamos com isso: enquanto houver dissentimento entre os homens n que diz respeito à base da religião, não poderá haver concórdia entre eles. É uma utopia imaginarmos a verdadeira paz entre adeptos de correntes teológicas opostas.
Há ministros e membros de igrejas afirmando que deve haver mais união entre os crentes. Mas a união proposta deixa de lado os princípios básicos do cristianismo. Estão dispostos a abandonar algumas doutrinas ortodoxas para abraçarem a paz. Querem comprar a paz pelo preço da verdade. O fato do evangelho dividir os homens demonstra a proeminência ou supremacia do Senhor Jesus Cristo e a superioridade e veracidade do cristianismo, do qual Ele é o Fundador. Falar de pacifismo é desconhecer a essência do evangelho.
A divisão é um preceito bíblico, quando determinada por questões sublimes e por um profundo interesse à causa do Mestre. Quando temos uma divisão causada por questões doutrinárias, isso é louvável, porque expressa a fidelidade bíblica de quem a promove.
Se alguém vem ter convosco e não traz esta doutrina, não o recebais em casa, nem lhe deis as boas-vindas. Porquanto aquele que lhe dá boas-vindas faz-se cúmplice das suas obras más (2Jo 10,11).
Rogo-vos, irmãos, que noteis bem aqueles que provocam divisões e escândalos, em desacordo com a doutrina que aprendestes; afastai-vos deles, porque esses tais não servem a Cristo, nosso Senhor, e sim a seu próprio ventre; e, com suaves palavras e lisonjas, enganam o coração dos incautos (Rm 16.17,18).
Nós vos ordenamos, irmãos, em nome do Senhor Jesus Cristo, que vos aparteis de todo irmão que ande desordenadamente e não segundo a tradição que de nós recebestes(...) Caso alguém não preste obediência à nossa palavra dada por esta epístola, notai-o; nem vos associeis com ele, para que fique envergonhado. Todavia, não o considereis por inimigo, mas adverti-o como irmão (2Ts 3.6,14,15).
Evita o homem faccioso, depois de admoestá-lo primeira e segunda vez... (Tt 3.10).
As Escrituras não autorizam divisões causadas por brigas pessoais, insultos, desentendimento por questões fúteis e vazias de valor. Não pode haver divisões entre crentes de mesmo credo (1Co 1.10-13; 3.1-9). Somos informados, nestes textos, que as divisões e contendas entre os coríntios não eram baseadas na doutrina, uma vez que Paulo exorta que se falem a mesma coisa e que tenham as mesmas conclusões. Paulo considerava os membros da igreja de corinto como tendo o mesmo credo, a mesma crença doutrinária, o mesmo conjunto de doutrina que formava a fé deles. Isso justifica a exortação à unidade. A exortação bíblica à unidade é com base na verdade. É a verdade bíblica, a doutrina fiel das Escrituras, que torna possível a unidade entre os cristãos de mesma crença doutrinária.
Amado, procedes fielmente naquilo que praticas para com os irmãos, e isto fazes mesmo quando são estrangeiros, os quais, perante a igreja, deram testemunho do teu amor. Bem farás encaminhando-os em sua jornada por modo digno de Deus; pois por causa do Nome foi que saíram, nada recebendo dos gentios. Portanto, devemos acolher esses irmãos, para nos tornarmos cooperadores da verdade (3Jo 5-8).
A obrigação de acolher e de animar aqueles que proclamam o verdadeiro evangelho de lugar em lugar e à alegria por fazê-lo acrescentar-se, opostamente, a necessidade de evitar aqueles que proclamam um falso evangelho. A verdade da doutrina bíblica, a verdadeira teologia bíblica, é a força motriz que deve unir os cristãos de mesmo credo. A união só pode ser possível se for na verdade.
A separação é o caminho da paz. Para que Abraão e Ló vivessem em paz, foi necessário a separação dos dois (Gn 13.1-18). É melhor uma separação do que uma unidade apenas aparente, cuja essência permanece a divisão de pensamentos. A divisão nos traz paz de consciência, porque nos coloca em condições de pensar livremente e de expressar aquilo que pensamos, diferentemente se estivermos num ecumenismo onde não teríamos a liberdade de pensamento, que causaria a quebra de unidade.
O falso pacifismo é uma forma para cessar o combate ao pecado. É uma forma de afrouxamento doutrinário. A unidade proposta não produz a almejada paz. Antes alimenta o pecado, diminui a responsabilidade do crente, enfraquece a evangelização e dá campo vasto para a proliferação da imoralidade.
O não-pacifismo é um preventivo em benefício da pureza da igreja (tanto na vida como na doutrina). Veja a declaração de Paulo:
Para vós outros, ó coríntios, abrem-se os nossos lábios, e alarga-se o nosso coração. Não tendes limites em nós; mas estais limitados em vossos próprios afetos. Ora, como justa retribuição (falo-vos como a filhos), dilatai-vos também vós. Não vos ponhais em jugo desigual com os incrédulos; porquanto que sociedade pode haver entre a justiça e a iniqüidade? Ou que comunhão, da luz com as trevas? Que harmonia, entre Cristo e o Maligno? Ou que união, do crente com o incrédulo? Que ligação há entre o santuário de Deus e os ídolos? Porque nós somos santuário do Deus vivente, como ele próprio disse: Habitarei e andarei entre eles; serei o seu Deus, e eles serão o meu povo. Por isso, retirai-vos do meio deles, separai-vos, diz o Senhor; não toqueis em coisas impuras; e eu vos receberei, serei vosso Pai, e vós sereis para mim filhos e filhas, diz o Senhor Todo-Poderoso (2Co 6.11-18).
Na pregação dessa suposta paz há muito engano e falsidade: “Curam superficialmente a ferida do meu povo, dizendo: Paz, paz; quando não há paz” (Jr 8.11). Existe paz? Não existe e nem pode existir a não ser que todos aceitem o evangelho, o que é impossível por causa da eleição divina. Daí a conclusão lógica de que não é possível esta pretensiosa paz, visto que a humanidade está dividida entre crentes e incrédulos, entre os verdadeiros profetas e os falsos profetas, entre o verdadeiro ensino e a heresia, e essa situação permanecerá até o fim dos tempos (2Tm 3.1-11; Mt 24.1-14; 2Pe 2).
O cristão verdadeiro possui paz, pois essa é a condição do crente, causada pela justificação (Rm 5.1). Assim sendo, ele precisa expressar essa paz entre todos os homens. Isso tem a ver com nossa relação com o próximo. Portanto, é dever do crente viver em paz com o católico romano, com o espírita, com o ateu, com o pagão etc. Mas isso não significa concessão ao erro. O nosso modo de viver deve ser pacífico, tratando-se de nossas relações pessoais com o próximo. Mas no terreno religioso e ideológico temos que nos colocar na ofensiva e atacar as idéias contrárias ao dogmatismo bíblico. Estamos atacando as idéias, as doutrinas erradas que o herege prega, e não a sua pessoa. Por outro lado, precisamos nos colocar na defensiva, a fim de defender a verdade bíblica dos ataques dos inimigos. Devemos defender sem ferir pessoalmente o atacante. Devemos ferir as idéias.
Firmeza na fé é uma atitude de oposição contra os hereges, os ecumênicos, os pacifistas, os modernistas, os liberais, os espíritas, os católicos romanos etc.
Caro leitor, você sabe defender o que crê? Você sabe argumentar por que escolheu a teologia adotada por você? Você tem se preocupado em defender a sua crença diante dos ataques daqueles que você mesmo considera como hereges? Ou simplesmente você não faz nada? Não diz nada? Você foge dos debates e das discussões? Você vê seus credos serem tachados de heresias e não faz nada? A não ser que sua teologia seja bíblica, você de fato não saberá fazer nada, não poderá dizer nada. Provavelmente você sairá do campo ideológico e partirá para um confronto pessoal.
A minha oração é que a verdade da Palavra de Deus seja exaltada, a qualquer custo, e que tenhamos o mesmo sentimento de Judas quando declarou:
Amados, quando empregava toda a diligência em escrever-vos acerca da nossa comum salvação, foi que me senti obrigado a corresponder-me convosco, exortando-vos a batalhardes, diligentemente, pela fé que uma vez por todas foi entregue aos santos (Jd 3).
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