John Piper
A essência da adoração é ter Jesus como infinitamente valioso, acima de todas as coisas. As formas exteriores de adoração são atos que mostram quanto valorizamos a Deus. Portanto, toda a vida tem o propósito de ser adoração, pois Deus afirmou que, comendo, ou bebendo, ou fazendo qualquer outra coisa – toda a vida –, devemos fazer tudo para mostrar quão valiosa é a glória de Deus para nós.
Dinheiro e bens são uma grande parte de nossa vida; por isso, Deus tenciona que eles sejam uma grande parte da adoração. A maneira como adoramos com nosso dinheiro e bens é ganhá-los, e usá-los, e perdê-los de um modo que mostre quanto valorizamos a Jesus, e não o dinheiro.
Lucas 12.33-34 está relacionado ao padrão de como adoramos com nosso dinheiro (e, por implicação, está relacionado ao que fazemos com nosso dinheiro na adoração coletiva, conforme veremos em seguida). “Vendei os vossos bens e dai esmola; fazei para vós outros bolsas que não desgastem, tesouro inextinguível nos céus, onde não chega o ladrão, nem a traça consome, porque, onde está o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração.” Com base nesse texto, observe três ensinos importantes sobre o dinheiro.
Primeiro, ter Jesus como nosso maior tesouro transmite um forte impulso à simplicidade, e não à acumulação. Focalize por um momento as palavras “vendei os vossos bens”, no versículo 33. Com quem Jesus estava falando? O versículo 22 nos dá a resposta: “seus discípulos”. Ora, em sua maioria, eles não eram pessoas ricas. Não tinham muitos bens. Mas, apesar disso, Jesus disse: “Vendei os vossos bens”. Ele não disse quantos bens eles deveriam vender.
Conforme mecionado em Lucas 18.22, Jesus disse a um jovem rico: “Vende tudo o que tens, dá-o aos pobres e terás um tesouro nos céus; depois, vem e segue-me” (v. 22). Nessa ocasião, Jesus instruiu o homem a vender todas os suas posses.
Quando Zaqueu encontrou-se com Jesus, disse: “Senhor, resolvo dar aos pobres a metade dos meus bens; e, se nalguma coisa tenho defraudado alguém, restituo quatro vezes mais” (Lc 19.8). Portanto, ele deu 50% de seus bens.
Atos 4.36-37 diz: “José, a quem os apóstolos deram o sobrenome de Barnabé, que quer dizer filho de exortação, levita, natural de Chipre, como tivesse um campo, vendendo-o, trouxe o preço e o depositou aos pés dos apóstolos”. Isso significa que Barnabé vendeu pelo menos um campo.
A Bíblia não nos diz quantos bens devemos vender. Então, por que ela nos diz que devemos vendê-los? Dar esmolas – usar o dinheiro para mostrar amor àqueles que não têm o necessário para a vida e não têm o evangelho (a necessidade para a vida eterna) – é tão importante que, se não temos dinheiro à mão, devemos vender algo para que possamos dar.
Agora pense o que isso significa no contexto. Os discípulos não eram pessoas ricas que tinham despesas além de suas condições, cujo dinheiro estava preso em títulos ou investido em imóveis. Muitas dessas pessoas têm, de fato, algumas economias. Mas Jesus não disse: “Usem um pouco do dinheiro de vocês para dar esmolas”. Ele disse: “Vendam algo e dêem esmolas”. Por quê? A suposição é que essas pessoa viviam tão próximas do limite de suas condições, que, não tendo dinheiro para dar, precisavam vender algo para que pudessem dar. Jesus queria que seu povo se movesse em direção à simplicidade, e não à acumulação.
Qual é o ensino? O ensino é que existe na vida cristã um poderoso impulso à simplicidade, e não à acumulação. Esse impulso resulta de valorizarmos a Deus como Pastor, Pai e Rei mais do que valorizamos todos os nossos bens.
E o impulso é poderoso por duas razões. Uma é que Jesus disse: “Quão dificilmente entrarão no reino de Deus os que têm riquezas (literalmente, aqueles que têm coisas)!” (Lc 18.24). Em Lucas 8.14, Jesus disse que as riquezas sufocam a Palavra de Deus. Contudo, queremos entrar no reino de Deus mais do que desejamos ter coisas. E não queremos que o evangelho seja sufocado em nossas vidas.
A outra razão é esta: queremos que a preciosidade de Deus seja manifestada ao mundo. E Jesus nos diz que vender os bens e dar esmolas é uma maneira de mostrar que Deus é real e precioso como Pastor, Pai e Rei.
Portanto, o primeiro ensino de Lucas 12 é que confiar em Deus como Pastor, Pai e Rei transmite um forte impulso à simplicidade, e não à acumulação. E isso transforma a adoração que procede do íntimo do coração em ações mais visíveis, para a glória de Deus.
Mas há uma segunda lição a aprendermos no versículo 33: o propósito do dinheiro é maximizar nosso tesouro no céu, e não na terra. “Vendei os vossos bens e dai esmola; fazei para vós outros bolsas que não desgastem, tesouro inextinguível nos céus, onde não chega o ladrão, nem a traça consome”. Qual é a conexão entre vender os bens, para atender à necessidade de outros (primeira parte do versículo), e o acumular para si mesmo tesouro no céu (final do versículo)?
A conexão parece ser esta: a maneira como você faz bolsas que não desgastam e ajunta no céu um tesouro inextinguível é por vender seus bens e atender às necessidades dos outros. Em outras palavras, simplificar nossa vida na terra por causa do amor maximiza nosso gozo no céu.
Não entenda de modo errado este ensino radical, pois isto é o que Jesus pensa e fala em todo o tempo. Ter uma mentalidade do céu faz uma diferença radicalmente amorosa neste mundo. As pessoas que estão mais poderosamente convencidas de que o tesouro no céu é o que realmente importa, e não as grandes possessões acumuladas neste mundo, são pessoas que sonharão constantemente com maneiras de simplificar e servir, simplificar e servir, simplificar e servir. Eles darão, e darão, e darão. E, é claro, trabalharão, trabalharão, trabalharão, como Paulo disse em Efésios 4.28: “Aquele que furtava não furte mais; antes, trabalhe, fazendo com as próprias mãos o que é bom, para que tenha com que acudir ao necessitado”.
A conexão com a adoração – na vida e nos domingos – é esta: Jesus nos manda acumular tesouros no céu, ou seja, maximizar nosso gozo em Deus. Ele diz que a maneira como fazemos isso é vendendo e simplificando, por amor aos outros. Assim, ele motiva a simplicidade e o serviço pelo nosso desejo de maximizar nosso gozo em Deus; e isso significa que todo o nosso uso do dinheiro se torna uma manifestação de quanto nos deleitamos em Deus, acima do dinheiro e de todas as coisas. E isso é adoração.
Mas há um terceiro e último ensino em Lucas 12: seu coração se move em direção ao que você ama, e Deus quer que você se mova em direção a ele. “Porque, onde está o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração” (v. 34). Essas palavras são apresentadas como a razão por que devemos buscar tesouros inextinguíveis no céu. Se o seu tesouro estiver no céu, onde Deus está, então ali estará o seu coração.
Ora, o que este versículo aparentemente simples nos diz? Entendo que a palavra tesouro significa “o objeto amado”. E a palavra “coração” entendo que significa “o órgão que ama”. Por isso, leio assim este versículo: “Onde estiver o objeto que você ama, ali estará o órgão que ama”. Se o objeto de seu amor é Deus, que está no céu, o seu coração estará com ele no céu. Você estará com Deus. Todavia, se o objeto de seu amor é o dinheiro e as coisas da terra, o seu coração estará na terra.
Você estará na terra, separado de Deus.
Isso é o que Jesus pretendia dizer quando falou: “Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de aborrecer-se de um e amar ao outro ou se devotará a um e desprezará ao outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas” (Lc 16.13). Servir ao Deus dinheiro significa amar o dinheiro e seguir todos os benefícios que ele pode oferecer. Nesse caso, o coração segue o dinheiro. Mas servir a Deus implica amá-lo e buscar todos os benefícios que ele pode dar. Nesse caso, o coração segue a Deus.
E isso é adoração: o coração está amando a Deus e buscando-o como o tesouro superior a todos os outros tesouros.
Em conclusão, vamos relacionar esses três ensinos de Lucas 12.33-34 com o ato de adoração coletiva que chamamos de “ofertório”. Este momento e este ato serão adoração para você, não importando a quantidade ofertada – desde a pequena moeda da viúva às grandes quantias dos milionários –, se, ao dar, você disser, de todo o coração: “Primeiro, ó Deus, por meio desse ato, eu confio em ti como meu generoso e dendito Pastor, Pai e Rei, de modo que não temerei quando tiver menos dinheiro para mim mesmo, ao suprir as necessidades dos outros. Segundo, ó Deus, por meio desse ato, eu resisto a incrível pressão de nossa cultura para acumularmos cada vez mais e identifico-me com o impulso para viver em simplicidade por amor aos outros. Terceiro, por meio desse ato, eu acumulo tesouros no céu, e não na terra, para que meu gozo em Deus seja maximizado para sempre. E, quarto, com esta oferta eu declaro que meu tesouro está no céu e meu coração segue a Deus”.
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