Por Christopher Walker
Jonathan Edwards (1703-1758) é conhecido, talvez, mais do que tudo por causa de um sermão que pregou em 1741, Pecadores nas Mãos de um Deus Irado. Em 1734, alguns anos depois de assumir o pastorado da igreja do seu avô em Northampton, estado de Massachusetts, EUA, suas pregações foram usadas por Deus para iniciar o Grande Despertamento naquela igreja e região. Posteriormente, o famoso pregador George Whitefield foi o instrumento que ampliou e estendeu este mover em outras partes das colônias norte-americanas.
Na verdade, a grande contribuição de Edwards não foi tanto através de suas pregações. Seu sermão famoso nem foi muito típico da maioria das suas mensagens. Geralmente, falava em tom baixo, com dignidade, porém, com grande ênfase. Sua voz não era muito apropriada para pregar a grandes multidões. Nunca utilizava tons altos ou gestos exagerados para comunicar suas idéias, mas dependia de figuras dramáticas de linguagem e argumentação lógica para convencer seus ouvintes.
Sua grande preocupação durante o Grande Despertamento era mostrar o equilíbrio certo entre a razão e as emoções na experiência com Deus. Apesar da sua formação e tradição que favoreciam mais os aspectos lógico e racional da apresentação da verdade, ele compreendeu e defendeu a importância dos sentimentos e das emoções na conversão e nas outras experiências com Deus. Ao mesmo tempo, também advertiu contra os excessos e perigos das emoções quando estas se tornam o objetivo principal da pessoa ou do movimento.
Acima de tudo, para Edwards e para os grandes pregadores contemporâneos (John Wesley e George Whitefield), o que trazia o mover e o poder de Deus era a pregação inspirada pelo Espírito. Ao ler algumas das pregações destes homens, talvez não sintamos hoje o mesmo efeito que causavam nos seus ouvintes quando foram pregadas originalmente. Em parte, isto é porque não estamos acostumados com o estilo lógico e detalhado que usavam naquela época, quando a pregação mais parecia um tratado teológico. Segundo um relato, uma das mensagens do pai de Jonathan Edwards continha nada menos que 66 pontos!
Qual a explicação, então, para a fantástica reação emocional que ocorreu durante a pregação de Pecadores nas Mãos de um Deus Irado? Na ocasião, havia pessoas gritando e gemendo, sentindo quase que literalmente as chamas do inferno, caindo no chão, desmaiando, incomodadas e extremamente angustiadas enquanto não encontrassem paz com Deus. A cena era como se um furacão tivesse passado no meio de uma floresta. Durante toda a noite seguinte, a convicção de pecados continuou nos lares, onde pessoas buscavam um verdadeiro encontro com Deus. Era como se o dia do Senhor já tivesse chegado.
Uma das chaves, sem dúvida, foi a estratégia inspirada que Edwards usou. Para começar, o sermão foi uma obra-prima de retórica e seqüência lógica, em que todas as saídas naturais para o homem foram metodicamente destruídas, e a pessoa se via sem qualquer chance de escapar da ira de Deus. Entretanto, mais do que isto, Edwards lançou mão de um estilo que era usado com criminosos condenados, logo antes da sua execução, em que o ministro enfatizava seu iminente encontro com Deus e os chamava ao arrependimento. Tais sermões freqüentemente eram publicados e, assim, o povo sabia identificar o estilo com facilidade.
Numa aplicação ousada e chocante, Edwards se dirigiu à sociedade respeitável de uma congregação em Enfield com este tipo de sermão. Enfatizando a vida pecaminosa daqueles que se consideravam membros fiéis da igreja, martelando em seus ouvidos a insegurança de sua posição diante de Deus, que só não os tinha julgado antes por pura misericórdia, ele os estava comparando, com efeito, a criminosos condenados.
Mas embora esta fosse uma estratégia poderosa e eficaz, não era em si a explicação mais importante. Isto fica ainda mais claro quando descobrimos que poucas semanas antes de pregar em Enfield com aqueles tremendos resultados, Edwards pregou a mesma mensagem em sua própria paróquia em Northampton. Pelo que sabemos, a única reação que obteve lá foi que o povo o cumprimentou à porta para dizer-lhe: 'Bela pregação, pastor', antes de ir para casa almoçar.
Assim, na própria análise de Edwards, a palavra pregada é o instrumento essencial que Deus usa para trazer despertamento; porém, é o Espírito que faz a obra e ele sopra aonde quer. Quando ele visita um lugar, entretanto, os efeitos são duradouros. As pessoas se tornam humildes, fiéis, santas e dispostas a orar. As igrejas passam a ser mais intensas na adoração e mais famintas pela Palavra.
De qualquer forma, por mais que a linguagem não nos seja comum e apesar da nossa dificuldade em nos identificar com a cultura da sua época, vale a pena reler este poderoso sermão, pois contém verdades que ainda precisamos ouvir, visto que a mesma situação continua nas igrejas hoje. Assim como lemos as profecias de Jeremias, Ezequiel e outros, podemos ainda ouvir a voz profética de Deus nestas palavras. Talvez, ao ler estas palavras, você fique aflito pensando: 'Chega de palavras pesadas! Será que ele não vai mostrar a graça e o perdão?' Mas este, possivelmente, seja nosso problema hoje: Oferecemos a solução para pessoas que ainda não se convenceram do seu fracasso e condenação.
Alguns trechos do sermão Pecadores nas Mãos de um Deus Irado, de Jonathan Edwards, 1741:
Deus não colocou nenhuma obrigação sobre si mesmo, nem fez qualquer promessa de preservar o homem natural do inferno por um momento sequer. (...) De forma que, indiferente daquilo que alguns imaginam ou interpretam a respeito das promessas feitas ao homem natural.., está claro e manifesto que, sejam quais forem os esforços que o homem natural dedicar à religião e sejam quais forem suas orações, enquanto ele não crer em Cristo, Deus não tem obrigação nenhuma de preservá-lo por um instante da destruição eterna.
Portanto, Deus segura os homens naturais em sua mão, suspensos, por assim dizer, sobre o abismo do inferno; eles merecem o abismo de fogo e para lá já foram condenados. Deus foi extremamente provocado, está tão irado para com eles quanto está em relação àqueles que já estão sofrendo a sentença do ardor da sua ira no inferno. Não fizeram nada, por mínimo que fosse, para abater ou aplacar esta ira, nem Deus se obrigou por qualquer promessa a preservá-los por um instante. O diabo aguarda por eles, o inferno está com sua boca escancarada, as chamas crescem e reluzem à sua volta, querendo devorá-los; o fogo reprimido nos seus próprios peitos tenta irromper para fora e, como não têm qualquer interesse em seu Mediador, não há meios ao seu alcance para que obtenham segurança. Em síntese, não há refúgio, nada a que se possam ater - a única coisa que os preserva, de momento a momento, é a mera vontade arbitrária e a tolerância não obrigatória e não comprometida de um Deus inflamado.
A aplicação deste terrível assunto poderá servir para o despertamento de pessoas não convertidas nesta congregação. Isto que acabaram de ouvir é o caso de cada um de vocês que está fora de Cristo. Este universo de miséria, este lago de fogo e enxofre, estende-se ilimitadamente abaixo de você. Lá está o horrível abismo das chamas cada vez maiores da ira de Deus; lá está a boca escancarada do inferno; e você nada tem em que se apoiar, nada em que se possa agarrar, nada entre si e o inferno, a não ser a atmosfera; é apenas o poder e o mero prazer de Deus que o mantém livre disso até o presente momento.
Você provavelmente não está consciente disso; percebe que foi preservado do inferno, mas não vê nisso a mão de Deus; talvez o atribua a outras coisas, como o bom estado do seu corpo, o cuidado que toma da sua própria vida, e os meios que usa para preservar a si mesmo. Mas, de fato, tudo isto é nada; se Deus retirasse sua mão, a proteção humana, que o impede de cair no abismo, não seria maior do que o vazio do ar para sustentar uma pessoa suspensa nele. (...)
A ira de Deus é como muitas águas represadas durante um determinado tempo; aumentam cada vez mais e sobem a níveis progressivamente mais elevados, até que encontrem um lugar de vazão. Quanto mais tempo o ribeiro é represado, mais rápido e poderoso será seu fluxo, no momento em que for liberado. É verdade que o juízo contra suas obras malignas ainda não foi executado; as torrentes da vingança de Deus estão retidas; enquanto isso, sua culpa vem constantemente aumentando, e todos os dias está entesourando mais ira para si mesmo; as águas não param de subir, tornando-se um potencial mais e mais ameaçador... Se Deus somente retirasse sua mão da comporta da represa, ela se abriria com ímpeto e as torrentes inflamadas do ardor e da ira de Deus irromperiam com fúria indescritível, e o inundariam com poder onipotente; e se sua força fosse dez mil vezes maior do que é, sim, dez mil vezes maior que a força do demônio mais robusto e resistente do inferno, não seria nada diante da força desta inundação. (..)
Assim, todos vocês que nunca passaram por uma grande mudança de coração, pelo grande poder do Espírito de Deus sobre suas almas; vocês, que nunca nasceram de novo para se tornarem novas criaturas, e para serem levantados da morte no pecado para o estado de novidade de vida; vocês, que não experimentaram, portanto, a luz nem o fogo do Senhor - sim, todos vocês estão nas mãos de um Deus irado. Não importa que tenham reformado sua vida em muitos aspectos, que tenham sentido emoções religiosas, ou que mantenham atualmente uma forma de religião em suas famílias, em seus aposentos particulares ou na casa de Deus - nada além do mero prazer de Deus o protege de ser neste momento engolido pela destruição eterna.
Não importa que você não tenha convicção agora desta verdade que está ouvindo. Em breve, se convencerá plenamente. Aqueles que foram levados anteriormente em circunstâncias semelhantes às suas já descobriram esta verdade, pois a destruição veio repentinamente sobre a maioria; quando não esperavam nada disso, enquanto diziam: 'Paz e segurança'; agora constataram que aquelas coisas das quais dependiam para obter paz e segurança nada mais eram senão ar e sombras vazias.
Fonte: Revista Impacto - Vozes Proféticas do Passado