segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Jonathan Edwards (1703-1758)


Por Christopher Walker

Jonathan Edwards (1703-1758) é conhecido, talvez, mais do que tudo por causa de um sermão que pregou em 1741, Pecadores nas Mãos de um Deus Irado. Em 1734, alguns anos depois de assumir o pastorado da igreja do seu avô em Northampton, estado de Massachusetts, EUA, suas pregações foram usadas por Deus para iniciar o Grande Despertamento naquela igreja e região. Posteriormente, o famoso pregador George Whitefield foi o instrumento que ampliou e estendeu este mover em outras partes das colônias norte-americanas.

Na verdade, a grande contribuição de Edwards não foi tanto através de suas pregações. Seu sermão famoso nem foi muito típico da maioria das suas mensagens. Geralmente, falava em tom baixo, com dignidade, porém, com grande ênfase. Sua voz não era muito apropriada para pregar a grandes multidões. Nunca utilizava tons altos ou gestos exagerados para comunicar suas idéias, mas dependia de figuras dramáticas de linguagem e argumentação lógica para convencer seus ouvintes.


Sua grande preocupação durante o Grande Despertamento era mostrar o equilíbrio certo entre a razão e as emoções na experiência com Deus. Apesar da sua formação e tradição que favoreciam mais os aspectos lógico e racional da apresentação da verdade, ele compreendeu e defendeu a importância dos sentimentos e das emoções na conversão e nas outras experiências com Deus. Ao mesmo tempo, também advertiu contra os excessos e perigos das emoções quando estas se tornam o objetivo principal da pessoa ou do movimento.

Acima de tudo, para Edwards e para os grandes pregadores contemporâneos (John Wesley e George Whitefield), o que trazia o mover e o poder de Deus era a pregação inspirada pelo Espírito. Ao ler algumas das pregações destes homens, talvez não sintamos hoje o mesmo efeito que causavam nos seus ouvintes quando foram pregadas originalmente. Em parte, isto é porque não estamos acostumados com o estilo lógico e detalhado que usavam naquela época, quando a pregação mais parecia um tratado teológico. Segundo um relato, uma das mensagens do pai de Jonathan Edwards continha nada menos que 66 pontos!

Qual a explicação, então, para a fantástica reação emocional que ocorreu durante a pregação de Pecadores nas Mãos de um Deus Irado? Na ocasião, havia pessoas gritando e gemendo, sentindo quase que literalmente as chamas do inferno, caindo no chão, desmaiando, incomodadas e extremamente angustiadas enquanto não encontrassem paz com Deus. A cena era como se um furacão tivesse passado no meio de uma floresta. Durante toda a noite seguinte, a convicção de pecados continuou nos lares, onde pessoas buscavam um verdadeiro encontro com Deus. Era como se o dia do Senhor já tivesse chegado.

Uma das chaves, sem dúvida, foi a estratégia inspirada que Edwards usou. Para começar, o sermão foi uma obra-prima de retórica e seqüência lógica, em que todas as saídas naturais para o homem foram metodicamente destruídas, e a pessoa se via sem qualquer chance de escapar da ira de Deus. Entretanto, mais do que isto, Edwards lançou mão de um estilo que era usado com criminosos condenados, logo antes da sua execução, em que o ministro enfatizava seu iminente encontro com Deus e os chamava ao arrependimento. Tais sermões freqüentemente eram publicados e, assim, o povo sabia identificar o estilo com facilidade.

Numa aplicação ousada e chocante, Edwards se dirigiu à sociedade respeitável de uma congregação em Enfield com este tipo de sermão. Enfatizando a vida pecaminosa daqueles que se consideravam membros fiéis da igreja, martelando em seus ouvidos a insegurança de sua posição diante de Deus, que só não os tinha julgado antes por pura misericórdia, ele os estava comparando, com efeito, a criminosos condenados.

Mas embora esta fosse uma estratégia poderosa e eficaz, não era em si a explicação mais importante. Isto fica ainda mais claro quando descobrimos que poucas semanas antes de pregar em Enfield com aqueles tremendos resultados, Edwards pregou a mesma mensagem em sua própria paróquia em Northampton. Pelo que sabemos, a única reação que obteve lá foi que o povo o cumprimentou à porta para dizer-lhe: 'Bela pregação, pastor', antes de ir para casa almoçar.

Assim, na própria análise de Edwards, a palavra pregada é o instrumento essencial que Deus usa para trazer despertamento; porém, é o Espírito que faz a obra e ele sopra aonde quer. Quando ele visita um lugar, entretanto, os efeitos são duradouros. As pessoas se tornam humildes, fiéis, santas e dispostas a orar. As igrejas passam a ser mais intensas na adoração e mais famintas pela Palavra.

De qualquer forma, por mais que a linguagem não nos seja comum e apesar da nossa dificuldade em nos identificar com a cultura da sua época, vale a pena reler este poderoso sermão, pois contém verdades que ainda precisamos ouvir, visto que a mesma situação continua nas igrejas hoje. Assim como lemos as profecias de Jeremias, Ezequiel e outros, podemos ainda ouvir a voz profética de Deus nestas palavras. Talvez, ao ler estas palavras, você fique aflito pensando: 'Chega de palavras pesadas! Será que ele não vai mostrar a graça e o perdão?' Mas este, possivelmente, seja nosso problema hoje: Oferecemos a solução para pessoas que ainda não se convenceram do seu fracasso e condenação.

Alguns trechos do sermão Pecadores nas Mãos de um Deus Irado, de Jonathan Edwards, 1741:

Deus não colocou nenhuma obrigação sobre si mesmo, nem fez qualquer promessa de preservar o homem natural do inferno por um momento sequer. (...) De forma que, indiferente daquilo que alguns imaginam ou interpretam a respeito das promessas feitas ao homem natural.., está claro e manifesto que, sejam quais forem os esforços que o homem natural dedicar à religião e sejam quais forem suas orações, enquanto ele não crer em Cristo, Deus não tem obrigação nenhuma de preservá-lo por um instante da destruição eterna.

Portanto, Deus segura os homens naturais em sua mão, suspensos, por assim dizer, sobre o abismo do inferno; eles merecem o abismo de fogo e para lá já foram condenados. Deus foi extremamente provocado, está tão irado para com eles quanto está em relação àqueles que já estão sofrendo a sentença do ardor da sua ira no inferno. Não fizeram nada, por mínimo que fosse, para abater ou aplacar esta ira, nem Deus se obrigou por qualquer promessa a preservá-los por um instante. O diabo aguarda por eles, o inferno está com sua boca escancarada, as chamas crescem e reluzem à sua volta, querendo devorá-los; o fogo reprimido nos seus próprios peitos tenta irromper para fora e, como não têm qualquer interesse em seu Mediador, não há meios ao seu alcance para que obtenham segurança. Em síntese, não há refúgio, nada a que se possam ater - a única coisa que os preserva, de momento a momento, é a mera vontade arbitrária e a tolerância não obrigatória e não comprometida de um Deus inflamado.

A aplicação deste terrível assunto poderá servir para o despertamento de pessoas não convertidas nesta congregação. Isto que acabaram de ouvir é o caso de cada um de vocês que está fora de Cristo. Este universo de miséria, este lago de fogo e enxofre, estende-se ilimitadamente abaixo de você. Lá está o horrível abismo das chamas cada vez maiores da ira de Deus; lá está a boca escancarada do inferno; e você nada tem em que se apoiar, nada em que se possa agarrar, nada entre si e o inferno, a não ser a atmosfera; é apenas o poder e o mero prazer de Deus que o mantém livre disso até o presente momento.

Você provavelmente não está consciente disso; percebe que foi preservado do inferno, mas não vê nisso a mão de Deus; talvez o atribua a outras coisas, como o bom estado do seu corpo, o cuidado que toma da sua própria vida, e os meios que usa para preservar a si mesmo. Mas, de fato, tudo isto é nada; se Deus retirasse sua mão, a proteção humana, que o impede de cair no abismo, não seria maior do que o vazio do ar para sustentar uma pessoa suspensa nele. (...)

A ira de Deus é como muitas águas represadas durante um determinado tempo; aumentam cada vez mais e sobem a níveis progressivamente mais elevados, até que encontrem um lugar de vazão. Quanto mais tempo o ribeiro é represado, mais rápido e poderoso será seu fluxo, no momento em que for liberado. É verdade que o juízo contra suas obras malignas ainda não foi executado; as torrentes da vingança de Deus estão retidas; enquanto isso, sua culpa vem constantemente aumentando, e todos os dias está entesourando mais ira para si mesmo; as águas não param de subir, tornando-se um potencial mais e mais ameaçador... Se Deus somente retirasse sua mão da comporta da represa, ela se abriria com ímpeto e as torrentes inflamadas do ardor e da ira de Deus irromperiam com fúria indescritível, e o inundariam com poder onipotente; e se sua força fosse dez mil vezes maior do que é, sim, dez mil vezes maior que a força do demônio mais robusto e resistente do inferno, não seria nada diante da força desta inundação. (..)

Assim, todos vocês que nunca passaram por uma grande mudança de coração, pelo grande poder do Espírito de Deus sobre suas almas; vocês, que nunca nasceram de novo para se tornarem novas criaturas, e para serem levantados da morte no pecado para o estado de novidade de vida; vocês, que não experimentaram, portanto, a luz nem o fogo do Senhor - sim, todos vocês estão nas mãos de um Deus irado. Não importa que tenham reformado sua vida em muitos aspectos, que tenham sentido emoções religiosas, ou que mantenham atualmente uma forma de religião em suas famílias, em seus aposentos particulares ou na casa de Deus - nada além do mero prazer de Deus o protege de ser neste momento engolido pela destruição eterna.

Não importa que você não tenha convicção agora desta verdade que está ouvindo. Em breve, se convencerá plenamente. Aqueles que foram levados anteriormente em circunstâncias semelhantes às suas já descobriram esta verdade, pois a destruição veio repentinamente sobre a maioria; quando não esperavam nada disso, enquanto diziam: 'Paz e segurança'; agora constataram que aquelas coisas das quais dependiam para obter paz e segurança nada mais eram senão ar e sombras vazias.



Fonte: Revista Impacto - Vozes Proféticas do Passado

Avivamento nos dias de Jonathan Edwards: Relevância Atual

Introdução.
  • Jonathan Edwards, um pastor congregacional que viveu no século XVIII, é hoje considerado pelos historiadores um dos maiores teólogos e pensadores da história dos Estados Unidos. Ele foi não somente um dos instrumentos do primeiro grande reavivamento ocorrido naquele país, mas o maior estudioso e intérprete desse fenômeno.
  • Através de vários livros que escreveu, ele analisou os eventos cuidadosamente, em seus diferentes aspectos. Em essência, Edwards apoiou alegremente o reavivamento, vendo nele a manifestação genuína do Espírito de Deus, mas também foi um crítico severo dos desvios, exageros e impropriedades que por vezes ocorreram. Uma de suas principais preocupações foi mostrar em seus escritos quais os critérios pelos quais se pode reconhecer a autenticidade de uma experiência religiosa dessa natureza.
1. Contexto Religioso
  • Quando Jonathan Edwards iniciou o seu ministério, a sua região, a Nova Inglaterra, já havia sido colonizada pelos ingleses há cem anos. Os colonizadores foram os famosos puritanos, calvinistas que lutaram por uma igreja mais pura no seu país de origem e que eventualmente foram para o Novo Mundo a fim de viverem sem impedimentos de acordo com as suas convicções.
  • Ao chegarem a Massachusetts, primeiro a Plymouth in 1620 e depois a Salem e Boston em 1629-30, eles procuraram edificar uma comunidade verdadeiramente cristã e uma igreja composta de pessoas convertidas e consagradas a Deus. Apesar de alguns problemas, e de certa intolerância para com outras pessoas e grupos que pensavam de maneira diferente, eles conseguiram realizar esse ideal por algum tempo.
  • Eventualmente, depois de um período inicial de sofrimentos e provações amargas, os colonos prosperaram materialmente na nova terra cheia de tantas oportunidades. No final do século XVII, a vida na Nova Inglaterra era em grande parte pacífica e confortável. A maioria das pessoas pertenciam à classe média e quase não havia pobreza. O nível educacional também era relativamente alto.
  • Todo esse progresso havia sido alcançado por causa dos valores religiosos e éticos dos puritanos, como o seu amor ao trabalho, sua disciplina de vida, sua rejeição de vícios e a preocupação em serem bons mordomos das bênçãos de Deus.
  • Porém, juntamente com a prosperidade material, ocorreu um declínio no fervor religioso entre as novas gerações. O cristianismo de muitos tornou-se meramente nominal; o mundanismo e a apatia espiritual tornaram-se generalizados. Além disso, novas ideologias vindas da Europa, o racionalismo e o iluminismo, com sua ênfase na razão e na capacidade humana, também estavam influenciando muitas pessoas.
  • Nesse ambiente desanimador, pastores e membros das igrejas oravam por um reavivamento das energias espirituais do povo de Deus. E isto ocorreu através do Grande Despertamento (1720s-40s), o primeiro evento da história norte-americana a atingir pessoas das diferentes colônias com um interesse religioso comum.
2. Jonathan Edwards
  • Jonathan Edwards nasceu em 1703, sendo filho de um consagrado ministro congregacional. Precoce e piedoso desde a sua meninice, aos 12 anos ele escreveu a uma de suas irmãs: "Pela maravilhosa misericórdia e bondade de Deus, tem ocorrido neste lugar uma extraordinária atuação e derramamento do Espírito de Deus... tenho razões para pensar que isso diminuiu em certa medida, mas espero que não muito. Cerca de treze pessoas uniram-se à igreja num estado de plena comunhão." Depois de dar os nomes dos convertidos, ele acrescentou: "Acho que muitas vezes mais de trinta pessoas se reunem às segundas-feiras para falar com o Pai acerca da condição das suas almas."
  • Edwards obteve o seu grau de bacharel no Colégio de Yale em 1720, onde continuou seus estudos teológicos e trabalhou como professor assistente por algum tempo. Após um breve pastorado numa igreja presbiteriana de Nova York, em 1726, aos 23 anos de idade, ele foi auxiliar o seu avô, Salomão Stoddard, o famoso pastor da igreja de Northampton, Massachusetts.
  • No ano seguinte, Jonathan casou-se com Sarah Pierrepont, então com 17 anos de idade, filha de um pastor bem conhecido e bisneta do primeiro prefeito de Nova York. Os historiadores destacam a harmonia, amor e companheirismo que sempre caracterizou a vida do casal. Eles gostavam de andar a cavalo ao cair da tarde para poderem conversar e antes de se deitarem sempre tinham juntos os seus momentos devocionais.
  • Jonathan e Sarah tiveram 11 filhos, todos os quais chegaram à idade adulta, fato raro naqueles dias. Em 1900, um repórter identificou 1400 descendentes do casal Edwards. Entre eles houve 15 dirigentes de escolas superiores, 65 professores, 100 advogados, 66 médicos, 80 ocupantes de cargos públicos, inclusive 3 senadores e 3 governadores de estados, além de banqueiros, empresários e missionários.
  • Em 1729, com a morte do seu avô, Jonathan tornou-se o pastor titular da igreja de Northampton, na qual, através de sua poderosa pregação, ocorreu um grande avivamento cinco anos mais tarde (1734-35). O Grande Despertamento tivera os seus primórdios alguns anos anos entre os presbiterianos e reformados holandeses na Pensilvânia e Nova Jérsei, cresceu com as pregações de Edwards e atingiu o seu apogeu no ano de 1740, com o trabalho itinerante do grande avivalista inglês George Whitefield (1714-1770). [Sobre o avivamento entre os presbiterianos, ver o recente artigo do Rev. Frans L. Schalkwijk, "Aprendendo da História dos Avivamentos," em Fides Reformata II-2.]
  • Em 1750, após 23 anos de pastorado, Jonathan Edwards foi despedido pela sua igreja, a razão principal sendo a sua insistência em que somente pessoas convertidas deviam participar da Ceia do Senhor, em contraste com a prática anterior do seu avô. No seu sermão de despedida, depois de advertir a igreja sobre as contendas que nela havia e os perigos que isto representava, ele concluiu: "Portanto, eu quero exortá-los sinceramente, para o seu próprio bem futuro, que tomem cuidado daqui em diante com o espírito contencioso. Se querem ver dias felizes, busquem a paz e empenhem-se por alcancá-la (1 Pe 3:10-11). Que a recente contenda sobre os termos da comunhão cristã, por ter sido a maior, seja também a última. Agora que lhes prego o meu sermão de despedida, eu gostaria de dizer-lhes, como o apóstolo disse aos coríntios, em 2 Co 13:11: "Quanto ao mais, irmãos, adeus! Aperfeiçoai-vos, consolai-vos, sede do mesmo parecer, vivei em paz; e o Deus de amor e de paz estará convosco."
  • No ano seguinte, Edwards foi para Stockbridge, uma região remota da colônia de Massachusetts, onde trabalhou como pastor e missionário entre os índios. Em 1757, a sua excelência como educador e sua fama como teólogo e filósofo fez com que ele fosse convidado para ser o presidente do Colégio de Nova Jérsei, a futura Universidade de Princeton. Um mês após a sua posse, Edwards faleceu devido a complicações resultantes de uma vacina contra varíola.
3. Jonathan Edwards e o Avivamento
  • A maior contribuição de Jonathan Edwards para a igreja evangélica está nos importantes livros que escreveu como teólogo e intérprete do avivamento. Curiosamente, sua obra mais conhecida é pouco representativa do seu pensamento como um todo. Trata-se do célebre sermão "Pecadores nas mãos de um Deus irado," que ele pregou na cidade de Enfield em 1741. A ênfase maior dos seus escritos e sermões não está na ira de Deus, e sim na sua majestade, glória e graça.
  • Além de muitas conversões e santificação de vidas, o Grande Despertamento também aprofundou uma divisão entre os líderes que eram favoráveis ao avivamento e aqueles que não eram. O problema ficou mais sério quando, após a obra de pregadores sérios e equilibrados com Edwards e Whitefield, surgiram imitadores sensacionalistas que manipulavam emocionalmente as pessoas. O Dr. Lloyd-Jones diz que Edwards lutou em duas frentes: contra os adversários do avivamento e contra os extremistas; contra o perigo de extinguir o Espírito e contra o perigo de deixar-se levar pela carne e ser iludido por Satanás.
  • Nesse contexto, Edwards propos-se a defender o avivamento como obra do Espírito de Deus, ao mesmo tempo que combateu os excessos e desvios que muitas vezes ocorriam. Foi nesse sentido que ele escreveu vários livros de grande valor, o primeiro deles sendo a Narrativa Fiel da Surpreendente Obra de Deus (1736-37), em que descreveu o recente despertamento em sua cidade e regiões vizinhas. Alguns anos depois, ele escreveu Alguns Pensamentos sobre o Atual Reavivamento da Religião na Nova Inglaterra (1742), analizando o movimento mais amplo. Esta obra baseia-se parcialmente em algumas profundas experiências espirituais da sua esposa Sarah.
  • Em 1746, Edwards publicou a sua obra mais amadurecida sobre o assunto, o seu Tratado sobre as Afeições Religiosas (resultou de uma série de sermões sobre 1 Pedro 1:8), no qual argumentou que o cristianismo verdadeiro não se evidencia pela quantidade ou intensidade das emoções religiosas, mas por um coração transformado que ama a Deus e busca o seu prazer. Ele faz uma análise rigorosa das diferenças entre a religiosidade carnal, que produz muita comoção, e verdadeira espiritualidade, que toca o coração com a visão da excelência de Deus e o liberta do egocentrismo.
  • Como bom calvinista que era, Edwards também escreveu algumas obras em defesa das convicções reformadas acerca da incapacidade moral e espiritual dos seres humanos e sua profunda necessidade da graça transformadora de Deus: A Liberdade da Vontade (1754) e O Pecado Original (1758).
4. A Genuína Experiência Religiosa
  • Nos seus escritos, Jonathan Edwards avaliou a experiência religiosa à luz das Escrituras e das suas convicções reformadas. O ponto de partida da sua pregação e da sua teologia foi o Deus soberano, em sua majestade, graça e glória. Esse Deus criou o universo e o ser humano para manifestar a sua grandeza e o seu amor. A majestade e a graça de Deus também se revelam de modo supremo no envio de Cristo para redimir os pecadores.
  • Nenhum avivamento ou experiência religiosa é genuína se não realçar esse Deus sublime em sua soberania, graça e amor. O critério principal é este: se quem está no centro das atenções é Deus ou o ser humano. Para que Deus esteja no centro é necessário, em primeiro lugar, que haja nos corações um profundo senso de incapacidade, de dependência de Deus, e de convicção da nossa pecaminosidade. Além disso, é preciso que haja a consciência de que toda genuína experiência religiosa é fruto da atuação do Espírito de Deus, que transforma e santifica os pecadores, capacitando-os a amar e honrar a Deus em suas vidas.
  • Portanto, todas as teorias de salvação que dão ênfase às obras humanas ou à capacidade humana só desmerecem a grandeza do amor de Deus revelado a nós em Cristo Jesus e tornado real em nossos corações somente pela iluminação do Espírito Santo.
  • Edwards crê na necessidade de transformação do ser humano. A moralidade externa não é suficiente, daí a importância da conversão. Por outro lado, para aqueles que já são crentes, uma fé simplesmente racional ou intelectual não basta. É preciso que a pessoa se aproxime de Deus não só com o entendimento, mas com os sentimentos. Cabeça e coração (luz e calor) devem funcionar juntos na vida conduzida pelo Espírito. O próprio Edwards era um exemplo disso. [Ver D.M. Lloyd-Jones, Jonathan Edwards e a Crucial Importância de Avivamento, PES, 12-18.]
  • Em todas as suas obras Edwards insistiu na importância dos afetos profundos na vida espiritual. Por "afetos" ou "afeições" ele se referia às disposições do coração que nos inclinam para certas coisas e nos afastam de outras. Todas as nossas ações derivam dos nossos desejos: ou nos comprazemos no Deus vivo e buscamos servi-lo e honrá-lo, ou somos cativos de desejos voltados para alvos menores.
  • Edwards advertiu contra dois grandes erros no avivamento. Primeiro, o mero emocionalismo: os avivalistas podem simplesmente excitar as emoções das pessoas e produzir falsas conversões. Emoções intensas não são uma evidência clara acerca de uma experiência religiosa. No seu grande tratado sobre as Afeições Religiosas, Edwards delineou cuidadosamente testes bíblicos quanto a uma experiência religiosa genuína; eles incluíam uma ênfase na obra graciosa de Deus, doutrinas consistentes com a revelação bíblica, e uma vida marcada pelos frutos do Espírito.
  • O segundo erro é dar ênfase não a Deus, mas às respostas humanas a Ele, algo muito comum hoje com toda a celebração do eu, as experiências pessoais, os testemunhos auto-congratulatórios. Edwards insistiu em que a essência da verdadeira espiritualidade é ser dominado pela visão da beleza de Deus, ser atraído para a glória das suas perfeições, sentir o seu amor irresistível.
  • Portanto, na verdadeira experiência cristã, o conhecimento de Deus é algo sensível, experimental. A verdadeira experiência cristã consiste não somente em conhecer e afirmar doutrinas cristãs verdadeiras, por importantes que sejam, mas é um conhecimento afetivo, ou a consciência das verdades que a doutrina descreve. Difere do conhecimento especulativo, assim como o sabor do mel difere do mero entendimento de que o mel é doce. O cristão, diz Edwards, "não apenas crê racionalmente que Deus é glorioso, mas têm em seu coração o senso da majestade de Deus."
  • Se nossos corações são transformados pelo amor de Deus, assim devem ser transformadas as nossas ações. Se somos mudados ao contemplarmos a beleza do amor de Deus, então amaremos de maneira especial todo ato de virtude que reflete o caráter amoroso de Deus.
Conclusão
  • Jonathan Edwards acreditava na importância e necessidade do avivamento. Ele viu o Grande Despertamento como uma obra do Espírito de Deus, revitalizando e capacitando a igreja para a sua missão no mundo. Ao mesmo tempo, ele estava consciente de desvios, excessos e até mesmo atuações satânicas que produziam excentricidades, descontrole emocional, ostentação e escândalos.
  • Porém, ele entendia que tais problemas não invalidavam os aspectos positivos do avivamento e, mais ainda, que alguns dos "fenômenos" ou "manifestações," ainda que inusitados, eram admissíveis diante das experiências profundas da graça de Deus que muitas pessoas estavam tendo, inclusive a sua esposa. Tais coisas, em si mesmas, nada provavam.
  • Os critérios que realmente indicavam se as conversões e o despertamento eram genuínos ou não eram os frutos visíveis: convicção de pecado, seriedade nas coisas espirituais, preocupação suprema com a glória de Deus, apego profundo às Escrituras, mudanças no comportamento ético, relacionamentos pessoais transformados e influência transformadora na comunidade.
  • Só esse tipo de avivamento será uma bênção para as nossas vidas, nossas igrejas e nosso país.
Fontes:
  • D.M. Lloyd-Jones, Jonathan Edwards e a Crucial Importância de Avivamento (São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas)
  • Mark A. Noll, A History of Christianity in the United States and Canada
  • Paul Helm, "Edwards, Jonathan (1703-1758)," em New International Dictionary of the Christian Church
  • "Jonathan Edwards and the Great Awakening," Church History IV, no. 4, especialmente os artigos "Colonial New England: An Old Order, A New Awakening," de J. Stephen Lang e Mark A. Noll; "My Dear Companion," de Elisabeth S. Dodds; "Edwards’ Theology: Puritanism Meets a New Age," de Richard Lovelace; e "Jonathan Edwards Speaks to our Technological Age," de George M. Marsden.
  • Luiz Roberto França de Mattos, "Jonathan Edwards and the Criteria for Evaluating the Genuineness of the ‘Brazilian Revival’," Tese de Mestrado em Teologia, Centro de Pós-Graduação A. Jumper, 1997 
  •  
     
* Alderi Souza de Matos 

    segunda-feira, 10 de outubro de 2011

    O sombrio crepúsculo da natureza

    As Escrituras ensinam claramente que o homem, em seu estado natural, não-redimido e não-regenerado, é cego. "O deus desta era cegou o entendimento dos descrentes, para que não vejam a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus" (2Co 4.4).

    Como qualquer homem pode ver e crer? A fim de responder a essa questão, Paulo faz uma analogia entre a antiga criação e a nova. Ele faz que nossos pensamentos retornem mi¬lhões de anos no tempo, ao caos primevo, quando a terra era "sem forma e vazia", e as "trevas cobriam a face do abismo".

    Tudo era sem forma, sem vida, cheio de trevas, triste e vazio, até que a palavra criativa de Deus trouxe a luz e o calor, a forma e a beleza. O mesmo acontece com o coração do homem natural que não tem a Cristo.

    O sombrio crepúsculo da natureza (sua razão e consciência) apenas alivia as trevas que, de outra forma, são impenetráveis, mas tudo é sombrio, vazio e frio, até que a ordem de Deus faça uma nova criação. "Pois Deus, que disse: 'Das trevas resplandeça a luz', ele mesmo brilhou em nossos corações, para iluminação do conhecimento da glória de Deus na face de Cristo" (2Co 4.6).

    John Stott
     

    Site Info

    Followers

    IPR QNL Copyright © 2010 Blogger Template Sponsored by Trip and Travel Guide