O Egito está dando passos largos para se transformar numa ditadura fundamentalista islâmica, depois de passar, porque isso faria parte da pantomima, por um ritual eleitoral.
Esse caminho é conhecido. A imbecilidade dominante na imprensa ocidental — na brasileira, então, chega ao paroxismo — acredita que se trata de um movimento popular espontâneo, liderado por pessoas que não agüentam mais as injustiças sociais e a ditadura e resolveram dar um “basta!”. É uma análise cretina.
O fato de o Egito ser governado por um ditador, desprezível como todos, e de as injustiças serem grandes não muda o caráter do que vai nas ruas. O tal “Movimento 6 de Abril”, liderado “por jovens”, segundo a boçalidade influente, é, além de irrelevante, uma boa fachada.
Quem comanda as ruas é a Irmandade Muçulmana, aquele mesmo grupo de onde saiu, por exemplo, o Hamas, que governa a Faixa de Gaza. A propósito: em Gaza, ninguém pede democracia, não é mesmo? Primeiro é preciso destruir Israel, é claro!
Mohamed ElBaradei, Nobel da Paz e ex-diretor da Agência Internacional de Energia Atômica, resolveu ser o intérprete, para o Ocidente, do que vai em seu país. Ele se oferece para uma espécie de governo de transição, legitimado sabe-se lá por quem, já que é ignorado pela esmagadora maioria dos egípcios. Em busca dessa legitimidade, o que fez o valente? Uniu-se à Irmandade!
A vereda do desastre está se abrindo; se vai se cumprir, não sei. O governo Obama repete para o mundo o discurso tíbio de Jimmy Carter em 1979, no Irã, naquela que se dizia ser também uma “revolução democrática”, de caráter islâmico.
“Democracia de caráter islâmico”, xiita ou sunita, é uma tradição que tem de ser fundada. Numa perspectiva puramente lógica, pode até ser possível, mas é improvável. Carter deu um pé no traseiro do xá Reza Pahlevi em nome da democracia e dos direitos humanos.
O resultado foi o regime dos aiatolás, com a democracia e os direitos humanos conhecidos… Carter sempre subtraía quando somava o infeliz!!! Os esquerdistas apoiaram entusiasmadamente a revolução — foram os primeiros na fila das execuções.
“Não quero nem saber, Reinaldo, se a democracia resultar no poder da Irmandade Muçulmana, que depois vai acabar com a democracia, fazer o quê?” Pois é. É um modo de ver o mundo. Não é o meu. Porque, junto com o fim da democracia, a Irmandade trará riscos que vão além das fronteiras egípcias, a exemplo do que aconteceu com a revolução xiita do Irã.
Por Reinaldo Azevedo
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